Algar investe na preparação de herdeiros
A apresentação de ballet de Marina está lá no site. Também a festa junina das crianças, os próximos aniversários e a história da família, hoje com 31 membros. Toda essa organização foi a forma encontrada pela família Garcia, controladora do grupo Algar, de integrar os herdeiros e de mantê-los atualizados não só sobre os negócios do grupo, como também dos eventos dos três núcleos familiares.
Fundado em 1954, quando o imigrante português Alexandrino Garcia abriu uma empresa de telefonia na região de Uberlândia (MG), o grupo Algar tem hoje negócios em áreas como agronegócio e turismo e fatura R$ 1,5 bilhão ao ano. O controle familiar foi mantido nos últimos 53 anos e hoje a terceira geração dos Garcia dita a estratégia das empresas. Mas muita coisa mudou no envolvimento dos herdeiros com a empresa.
Em 1989, o grupo passou por um processo de profissionalização que levou à saída total da família da gestão. Ao final da década de 90, endividada, a Algar realizou nova reestruturação, tanto na gestão como no quesito família. "Em 2001, criamos um conselho de família, com a responsabilidade de realizar programas de formação de acionistas e de criar eventos de integração entre as gerações", diz Eliane Garcia Melgaço, diretora comercial da holding e membro da terceira geração dos Garcia.
Uma das mudanças foi exatamente a de voltar a permitir membros da família na gestão. Mas com regras bem definidas. "Para trabalhar no grupo, é preciso ter mestrado e pelo menos cinco anos de experiência em empresas de fora", explica Eliane. Hoje, além dela, trabalha na holding seu primo, Luiz Alexandre Garcia, presidente da holding. "Entendemos que ser ou não da família não faria diferença e, sim, a competência."A experiência da família e sua decisão de criar uma estrutura para os herdeiros - o conselho de família - foi apresentada ontem por Eliane e Luiz Alexandre em Berlim, na Alemanha, no 18º congresso do Family Business Network (FBN), entidade que se dedica a negócios familiares. O Algar foi o único grupo brasileiro a realizar uma apresentação no evento, que teve 500 participantes de 19 países. Do Brasil, compareceram 34 pessoas.
De acordo com Eliane Garcia, é muito comum tratar da governança corporativa, que remete ao conselho de administração da empresa. "No nosso caso, apresentamos em Berlim a chamada governança invisível, a da família." O conselho da família, que se reúne quatro vezes ao ano, é capitaneado por Eleusa Garcia Melgaço, irmã de Eliane. Tem nove membros, sendo três de cada núcleo familiar.
Entre as atividades que desenvolve estão visitas às empresas, aulas teóricas sobre temas como marketing e até contabilidade, troca de experiências com outras famílias empresárias (a última foi com a Sadia e a Jacto) e uma reunião anual de integração com todos os herdeiros. Hoje, já há acionistas da quarta geração.
Entre os jovens, a ferramenta que mais tem feito sucesso é o site da família Garcia. "Meu filho de dez anos entra e conversa com o primo. O site acaba aproximando a família", diz Eliane. Na internet, é possível também conhecer a história da família, das empresas e do negócio; as principais notícias do grupo e atas e apresentações de reuniões.
Renato Bernhoeft, da Bernhoeft Consultoria, que assessorou os Garcia, diz que o trabalho desenvolvido na Algar foi de preparo dos herdeiros para o papel de família empresária. "Preparamos a nova geração para o papel de acionistas e os ajudamos nos processos pessoais de vida e de carreira. Um sócio feliz, de bem com a vida, agrega valor, estando ele dentro ou fora da empresa", diz. Com as regras definidas, ficou também mais fácil lidar com pressões inerentes a um negócio familiar. Todos sabem, por exemplo, que cônjuges não podem trabalhar nas empresas do grupo. E há herdeiros que estão estudando no exterior porque querem participar dos negócios e têm que se preparar.
Os Garcia agora se preparam para mais um passo. Estão em fase final de negociação de um novo acordo de acionistas, que irá contemplar definições sobre questões como a venda de participações, direito de preferência e outros assuntos ligados ao patrimônio e à participação da família na gestão. (Fonte: Valor Econômico, 21 de setembro de 2007).
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