Em 1784 Immanuel Kant redigiu "Idéia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita", no qual, além de firmar os princípios inaugurais da filosofia da história alemã, chama a atenção para o fato de que a possibilidade de estabelecimento de uma constituição civil perfeita em um determinado Estado dependeria da resolução do problema relativo às relações externas entre os Estados.
Ou seja, da mesma forma que no plano interno do Estado, o cidadão, para desenvolver a sua insociável sociabilidade, tem a necessidade de um poder exercido segundo leis que o obrigue a obedecer à vontade universalmente válida, no plano externo os Estados deverão "sair do estado sem leis dos selvagens para entrar numa federação de nações em que todo o Estado, mesmo o menor deles, pudesse esperar sua segurança e direito não da própria força ou do próprio juízo legal, mas somente desta grande confederação de nações, de um poder unificado e da decisão segundo leis de uma vontade unificada."
Tais reflexões formuladas pelo filósofo alemão em 1784 revestem-se de suma importância neste final de século XX, diante da crise das instituições internacionais fundadas no segundo pós-guerra e desde então responsáveis pelo "equilíbrio global" do planeta: Organização das Nações Unidas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e, recentemente, Organização Mundial do Comércio.
Tais instituições foram criadas com o objetivo de administrar uma ordem institucional global que buscava: (a) no plano político, impedir novas aventuras expansionistas de países, a partir da mediação e, em últimos casos, uso da força, em conflitos internacionais, e (b) no plano econômico, impedir novas crises monetárias como a ocorrida nas décadas de 20/30.
Ocorre que neste final de século vivemos um perigoso paradoxo: por um lado todos temos uma crescente compreensão de que os problemas que enfrentamos são, por assim dizer, cada vez mais, expressões globais das relações mantidas entre Estados, grandes empresas e sistemas financeiros internacionalizados, aprofundados pela chamada terceira revolução industrial e tecnológica; por outro, vivemos uma crescente crise de legitimidade das instituições que poderiam viabilizar uma integração global satisfatória aos diversos povos.
Acompanhamos todos a Terceira Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio preparatória à Rodada do Milênio, ocorrida em Seatlle, Estados Unidos, em dezembro de 1999, e o profundo desacordo entre as propostas comerciais dos Estados Unidos e Europa e suas efetivas práticas comerciais, ao solicitarem a abertura dos mercados internacionais através de legislações liberalizantes e, contraditoriamente, promoverem barreiras aos produtos dos países "emergentes" que competem com seus produtos locais, bem como o fracasso geral nas negociações, com os principais atores questionando a legitimidade da OMC como fórum para dirimir os conflitos econômicos entre os Estados.
Mike Moore, Diretor-Geral da OMC, chegou a afirmar, aflito diante da confusão geral que foi a Conferência, que sem o sistema multilateral de comércio o mundo seria mais pobre, seria um mundo dos blocos concorrentes e da política de poder, um mundo mais conflitivo, mais incerto.
Recentemente acompanhamos a disputa entre os europeus e os norte-americanos em torno da direção do Fundo Monetário Internacional, com o veto dos segundos ao nome oferecido pelos alemães - um teuto-brasileiro, diga-se de passagem, pois Caio Koch-Weser nasceu no Paraná - , provocando uma crise diplomática ainda não resolvida, cujas razões encontram-se para além do nome sobre o qual recairá a responsabilidade do cargo, mais precisamente na indecisão sobre o papel do FMI no próximo milênio.
A Organização das Nações Unidas vive já há algum tempo em estado de insolvência, sem que seus principais sócios façam o repasse dos recursos devidos, provocando uma crise interna entre seus quadros.
Recentemente um diplomata brasileiro afirmou a jornalistas dos principais jornais nacionais que as principais decisões emanadas de tais órgãos são definidas segundo o interesse das principais potências participantes em suas direções e comunicadas como se fossem fruto de acordos gerais.
Enfim, em um final de século em que nossas percepções acerca dos problemas comuns tornam-se mais agudas, falando-se até na necessidade de organização de uma "sociedade civil global" como resposta à falência dos estados nacionais e sua arquitetura jurídica, percebemos que as instituições internacionais criadas na metade do século com o intuito de reorganizar um mundo estilhaçado pela guerra estão à beira da falência política e econômica.
Sempre soubemos que tais instituições foram criadas, nas palavras do norte-americano George Busch, pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano, com o objetivo de garantir a supremacia econômica, política e militar dos Estados Unidos, compartilhada com uma Europa razoavelmente dividida, isto é, sem um país líder.
Ocorre que, em meio século, tal realidade nunca foi tão questionada como hoje.
E o papel do Brasil e de seus dirigentes nesse panorama ?
Talvez, parafraseando Milton Santos, quando interpretarmos o Brasil e o mundo a partir de nossa condição de brasilidade possamos ser suficientemente universais para encontrarmos forças para melhorar o nosso país, e certamente para escolhermos dirigentes à altura dos desafios que o mundo nos coloca !
Ou seja, da mesma forma que no plano interno do Estado, o cidadão, para desenvolver a sua insociável sociabilidade, tem a necessidade de um poder exercido segundo leis que o obrigue a obedecer à vontade universalmente válida, no plano externo os Estados deverão "sair do estado sem leis dos selvagens para entrar numa federação de nações em que todo o Estado, mesmo o menor deles, pudesse esperar sua segurança e direito não da própria força ou do próprio juízo legal, mas somente desta grande confederação de nações, de um poder unificado e da decisão segundo leis de uma vontade unificada."
Tais reflexões formuladas pelo filósofo alemão em 1784 revestem-se de suma importância neste final de século XX, diante da crise das instituições internacionais fundadas no segundo pós-guerra e desde então responsáveis pelo "equilíbrio global" do planeta: Organização das Nações Unidas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e, recentemente, Organização Mundial do Comércio.
Tais instituições foram criadas com o objetivo de administrar uma ordem institucional global que buscava: (a) no plano político, impedir novas aventuras expansionistas de países, a partir da mediação e, em últimos casos, uso da força, em conflitos internacionais, e (b) no plano econômico, impedir novas crises monetárias como a ocorrida nas décadas de 20/30.
Ocorre que neste final de século vivemos um perigoso paradoxo: por um lado todos temos uma crescente compreensão de que os problemas que enfrentamos são, por assim dizer, cada vez mais, expressões globais das relações mantidas entre Estados, grandes empresas e sistemas financeiros internacionalizados, aprofundados pela chamada terceira revolução industrial e tecnológica; por outro, vivemos uma crescente crise de legitimidade das instituições que poderiam viabilizar uma integração global satisfatória aos diversos povos.
Acompanhamos todos a Terceira Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio preparatória à Rodada do Milênio, ocorrida em Seatlle, Estados Unidos, em dezembro de 1999, e o profundo desacordo entre as propostas comerciais dos Estados Unidos e Europa e suas efetivas práticas comerciais, ao solicitarem a abertura dos mercados internacionais através de legislações liberalizantes e, contraditoriamente, promoverem barreiras aos produtos dos países "emergentes" que competem com seus produtos locais, bem como o fracasso geral nas negociações, com os principais atores questionando a legitimidade da OMC como fórum para dirimir os conflitos econômicos entre os Estados.
Mike Moore, Diretor-Geral da OMC, chegou a afirmar, aflito diante da confusão geral que foi a Conferência, que sem o sistema multilateral de comércio o mundo seria mais pobre, seria um mundo dos blocos concorrentes e da política de poder, um mundo mais conflitivo, mais incerto.
Recentemente acompanhamos a disputa entre os europeus e os norte-americanos em torno da direção do Fundo Monetário Internacional, com o veto dos segundos ao nome oferecido pelos alemães - um teuto-brasileiro, diga-se de passagem, pois Caio Koch-Weser nasceu no Paraná - , provocando uma crise diplomática ainda não resolvida, cujas razões encontram-se para além do nome sobre o qual recairá a responsabilidade do cargo, mais precisamente na indecisão sobre o papel do FMI no próximo milênio.
A Organização das Nações Unidas vive já há algum tempo em estado de insolvência, sem que seus principais sócios façam o repasse dos recursos devidos, provocando uma crise interna entre seus quadros.
Recentemente um diplomata brasileiro afirmou a jornalistas dos principais jornais nacionais que as principais decisões emanadas de tais órgãos são definidas segundo o interesse das principais potências participantes em suas direções e comunicadas como se fossem fruto de acordos gerais.
Enfim, em um final de século em que nossas percepções acerca dos problemas comuns tornam-se mais agudas, falando-se até na necessidade de organização de uma "sociedade civil global" como resposta à falência dos estados nacionais e sua arquitetura jurídica, percebemos que as instituições internacionais criadas na metade do século com o intuito de reorganizar um mundo estilhaçado pela guerra estão à beira da falência política e econômica.
Sempre soubemos que tais instituições foram criadas, nas palavras do norte-americano George Busch, pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano, com o objetivo de garantir a supremacia econômica, política e militar dos Estados Unidos, compartilhada com uma Europa razoavelmente dividida, isto é, sem um país líder.
Ocorre que, em meio século, tal realidade nunca foi tão questionada como hoje.
E o papel do Brasil e de seus dirigentes nesse panorama ?
Talvez, parafraseando Milton Santos, quando interpretarmos o Brasil e o mundo a partir de nossa condição de brasilidade possamos ser suficientemente universais para encontrarmos forças para melhorar o nosso país, e certamente para escolhermos dirigentes à altura dos desafios que o mundo nos coloca !