O tempo em que os gestores de investimentos acompanhavam as empresas de capital aberto pela tela do computador entrou para a história. Se até pouco tempo, os gestores aplicavam uma parte mínima dos recursos de seus clientes em renda variável, com a queda nas taxas de juros e o crescimento do mercado de capitais, é cada vez maior a demanda por investimentos mais arriscados.
"O mercado mudou", afirma Jorge Paulo Lemann, da GP Investimentos. "Antes, as ações competiam com os juros altíssimos praticados no país. À medida que os juros estão se ajustando para baixo, também está ocorrendo uma transferência de interesses do investidor de renda fixa para o mercado de renda variável", diz Lemann (leia entrevista nesta página).
Para acompanhar essa tendência, o perfil dos gestores também teve de mudar. Há uma nova geração que já sai da faculdade sem medo de arriscar e explorar todas as possibilidades do mercado de capitais.E também profissionais de outras áreas, com larga experiência, que estão sendo trazidos para os bancos de investimento para agregar seus conhecimentos ao mercado.
Miguel Marques Gomes, 19, é um dos exemplos desse sangue novo que está chegando ao mercado. No 3º ano de economia da PUC-RJ, ele é estagiário na empresa de gestão de recursos Ático Asset Management desde o ano passado.
Porém, antes de começar a trabalhar, passou quatro meses lendo obras dos filósofos René Descartes e Karl Popper. Também se aprofundou em lógica, teoria dos jogos e, é claro, contabilidade.
"A faculdade ensina a técnica, mas ela é insuficiente hoje em dia", afirma Ricardo Junqueira, sócio-gestor da Ático. "Os gestores precisam saber questionar, duvidar, entender se um plano estratégico faz sentido e se a empresa entregará o que promete."
Na prática, isso significa ir além de ler o balanço da empresa na tela do computador ou ir a reuniões com os responsáveis por relações com investidores. Gomes, por exemplo, viaja, visita empresas e diz dedicar-se profundamente às áreas nas quais a gestora investe.
"Quando visito as empresas, consigo entender o que dizem as entrelinhas dos balanços", afirma ele. "Elas podem determinar o retorno de um negócio", completa.
Parcerias
Esse sangue novo também tem chegado às gestoras na forma de parcerias ou contratações bastante específicas. A Rio Bravo Investimentos, por exemplo, trouxe Mario Fleck para cuidar do fundo voltado a empresas de capital aberto, o RB Fundamental. Fleck esteve por nada menos do que 28 anos na consultoria Accenture, 14 dos quais como presidente.
Nessa posição, ele conheceu como poucos a intimidade das empresas no Brasil. Experiência fundamental para administrar um fundo que diz ter como principal meta respeitar e ouvir o acionista minoritário.
"Acreditamos que temos competência para agregar valores à gestão das empresas nas quais investimos", afirma Fleck. "Não somos torcedores de arquibancada."
O resultado pôde ser medido em números. No ano passado, o RB Fundamental teve uma rentabilidade de 68%. A rentabilidade média do Ibovespa, em 2006, foi de 33,73%.
Para a Rio Bravo, o percentual é atraente não apenas para novos investidores, já que 30% do valor aplicado sai obrigatoriamente dos bolsos dos sócios da gestora.
"As assets [gestoras] têm buscado alternativas para se diferenciar dos grandes bancos", diz William Eid Júnior, coordenador do centro de estudos em finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas). "Só com uma rentabilidade muito maior conseguem fazer com que os clientes abram mão da segurança dos bancões."
O banco de investimentos Banif, por exemplo, associou-se à gestora Nitor no fim de março para buscar esse diferencial. Com uma carteira voltada apenas para investimentos em renda fixa e em alguns fundos especiais, como os ambientais e de infra-estrutura, o banco fez a parceria exatamente para atender à demanda de seus clientes, preocupados com o baixo retorno dos fundos DI.
"Em vez de começar do zero, o Banif preferiu associar-se a uma empresa que já tivesse histórico de rentabilidade", diz Rodrigo Lopes, estrategista de renda variável da Banif Nitor. Com isso, a carteira de investimentos da Nitor passou de R$ 400 milhões de patrimônio para R$ 1,4 bilhão. (Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br)