segunda-feira, 16 de julho de 2007

Comunidade Européia reage contra fuga de cérebros

"Salvemos a pesquisa." Com esse apelo, uma petição lançada em 7 de janeiro, na França, reuniu, em menos de dois meses, mais de 70 mil assinaturas de pesquisadores e cientistas —em adesão ao movimento, mais de 1.300 diretores e 2.000 chefes de equipe pediram demissão de seus cargos em institutos de pesquisa franceses.Acrescentado o apoio de cidadãos comuns, esse número já atingiu mais de 280 mil nomes. O alcance da iniciativa revelou o descontentamento da categoria com as atuais condições de carreira e trabalho no país.A fuga de cérebros para o exterior é um dos problemas graves que a Europa enfrenta hoje. Segundo a Comissão Européia, cerca de três quartos dos europeus que obtiveram um título de doutorado nos EUA de 1991 a 2000, aproximadamente 11 mil, não têm a intenção de retornar. As razões para o exílio voluntário são claras: melhores condições de trabalho, melhores perspectivas de carreira, acesso a tecnologias de ponta e mais liberdade para a pesquisa (leia texto à pág. 12).Após 13 anos trabalhando como pesquisador na área de biologia molecular, o inglês Karl Gensberg, 41, pretende abandonar a carreira acadêmica no mês que vem, quando termina seu contrato temporário com a Universidade de Birmingham (Inglaterra), e adotar uma nova profissão: encanador. A razão? A possibilidade de ganhar até o dobro do que obtém como pesquisador, £ 23 mil por ano (cerca de R$ 130 mil). O caso de Gensberg foi explorado à exaustão no mês passado pela mídia britânica.Esse é apenas um exemplo de como a crise do setor vem atingindo o continente. A fuga de cérebros tem causado, sem trocadilho, muita dor de cabeça. A origem principal do problema tem sido apontada como a diferença de recursos. Em 2000, os EUA investiram em pesquisa e desenvolvimento o equivalente a e 121 bilhões (cerca de R$ 450 bilhões) a mais que a União Européia.Além disso, a prática de investimentos privados em pesquisas nas universidades públicas, generalizada nos EUA, ainda é incipiente na Europa —em 2000, as empresas européias investiram em pesquisa e desenvolvimento e 79 bilhões (cerca R$ 295 bilhões) a menos que as companhias norte-americanas. Para corrigir isso, um dos objetivos da União Européia é, até 2010, passar do atual 1,9% do PIB investido no setor para 3%, sendo dois terços financiados pelo setor privado.Na Alemanha, que tem 20 mil jovens trabalhando em instituições científicas dos EUA —país onde também estão três dos quatro cientistas alemães que ganharam o Prêmio Nobel nos últimos anos—, o governo e a iniciativa privada estão se unindo.No ano passado, foi criada a GSO (German Scholars Organization), instituição liderada por empresários e pesquisadores com o objetivo de reconquistar os cientistas alemães que estão fora do país. Voltada para doutores e pós-doutores, a GSO coloca os cientistas em contato com empresas e instituições de pesquisa e mantém um site (www.gsonet.org) com uma bolsa de empregos. "Infelizmente, são os nossos melhores cientistas que não voltam", diz Wolfgang Benz, vice-presidente da GSO.O governo alemão também tem criado prêmios e rankings que destinam mais dinheiro à pesquisa nas universidades. Uma das medidas do governo pretende abrir portas para a carreira dos jovens cientistas com a chamada "cátedra júnior".A cátedra substitui o longo processo da habilitação acadêmica. Para cada professor júnior que uma universidade contrata, ela recebe do governo federal e 60 mil por ano. Das 800 vagas destinadas à "cátedra júnior", porém, apenas 350 foram ocupadas até agora, 15% das quais por cientistas alemães vindos do exterior.Apesar dos desafios, nem tudo está perdido. No Reino Unido, o "brain drain" (fuga de cérebros) acabou gerando um efeito colateral positivo: o "brain gain" (ganho de cérebros). As lacunas geradas pelo êxodo dos cientistas britânicos estão sendo preenchidas por cientistas de outros países, geralmente vindos de suas ex-colônias, como a Índia, o Paquistão e a Nigéria. Para eles, os salários e condições de trabalho são muito melhores que os de seus países de origem.Para o biólogo Peter Cotgreave, diretor da Save British Science Society (Sociedade Salve a Ciência Britânica), a circulação de cientistas entre os países é parte essencial da boa ciência. "O problema surge quando isso se torna um caminho de uma só mão." (Fonte: http://www1.folha.uol.com.br)

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